Tábua I >> Tábua II
- Quando nas alturas os céus ainda não tinham nome,
- E a terra abaixo não havia ainda sido nomeada,
- Havia o Abismo Primordial de Abzu,
- E havia o caos de Tiamat, a mãe de todos.
- E suas águas se misturaram.
- Mas nem campos nem pântanos haviam sido criados.
- Dos deuses nenhum havia sido chamado à existência.
- Ninguém tinha nome e nenhum destino havia sido decretado.
- Então, nos domínios celestes, os deuses foram criados.
- Lahmu e Lahamu se formaram e foram chamados à existência.
- O tempo passou e eles cresceram adquirindo grande estatura.
- Anshar e Kishar, mais magníficos que seus pais, foram criados.
- As eras se estenderam.
- Anu, o filho deles, fazia frente a seus pais.
- Anu era igual a Anshar.
- E ele gerou Ea-Nudimmud, seu semelhante.
- Nudimmud, era o maior que seus ancestrais.
- Transbordante era sua sabedoria e enorme era sua força.
- Era muito mais forte que o pai de seu pai, Anshar.
- Ele não tinha rivais entre os deuses, seus irmãos.
- E os divinos irmãos se uniram.
- Seu clamor era poderoso e eles perturbavam Tiamat.
- Os nervos de Tiamat estavam abalados.
- Com suas danças eles causaram distúrbios em Anduruna.
- Abzu nada fez para diminuir a agitação.
- E Tiamat os confrontava silenciosamente,
- Embora a conduta de seus filhos a perturbasse.
- Mas, embora eles a incomodassem, ela queria poupá-los.
- Então, Abzu, o progenitor de todos os deuses,
- Chamou Mummu, seu vizir, e disse a ele:
- "Oh Mummu, vizir que alegra meu espírito.
- "Vem comigo até Tiamat. Vamos!"
- Então eles foram e sentaram-se diante de Tiamat,
- E conversaram para decidir o que fazer com os deuses, seus filhos.
- Abzu abriu a boca para falar.
- E para dentro de Tiamat, a Reluzente, ele enviou as palavras:
- "O comportamento deles tornou-se desagradável para mim,
- "Durante o dia eu não tenho descanso e a noite não posso dormir em paz.
- "Devo destruir e acabar com essas atitudes impensadas.
- "Deixe que lamentem e que o silêncio reine, para que possamos ter paz ."
- Quanto Tiamat ouviu essas palavras,
- Ela enfureceu-se e gritou alto para seu esposo,
- Chorou magoada e começou a fumegar.
- Ela entristeceu-se com as intenções malignas que lhe haviam sido reveladas:
- "Como podemos destruir aquilo que criamos?
- Apenas conformemo-nos com a dificuldade e poderemos dormir em paz."
- Mummu respondeu e aconselhou Abzu,
- E hostil foi o conselho que Mummu deu contra os deuses:
- "Vem, meu pai. Eles vivem na anarquia e tu deverás acabar com isso.
- Só assim terás descanso durante o dia e à noite poderás dormir em paz."
- Abzu ouviu cuidadosamente e seu rosto estava satisfeito,
- Pois Mummu havia planejado coisas más para os deuses, seus filhos.
- Mummu pôs os braços ao redor do pescoço de Apsu,
- Sentou-se nos seus joelhos e o beijou.
- E os planos que eles fizeram,
- Foram reportados a seus filhos, os deuses.
- Os deuses ouviram e ficaram frenéticos.
- Cheios de lamentação, eles se sentaram melancólicos.
- Ea, que entre todos era o mais habilidoso e sábio.
- Ea, aquele que conhece tudo, tomou conhecimento da traição.
- Ele criou um plano que resolveria tudo.
- Ele executou-o habilmente para que fosse eficaz - criou um encantamento poderoso.
- Ea recitou-o e enviou-o nas águas.
- Ele pulverizou sono sobre Abzu e o fez dormir profundamente.
- Colocou Abzu para dormir enquanto espalhava o sono.
- Mummu, o conselheiro perdeu a respiração quando viu aquilo.
- Ea rompeu os tendões de Abzu e arrancou sua coroa.
- Retirou sua aura e a colocou sobre si.
- Ele prendeu Abzu e o matou.
- Confinou Mummu e o acorrentou firmemente.
- Ele fez sua casa no corpo de Abzu.
- E manteve as correntes de Mummu firmes em sua mão.
- Depois que Ea havia aprisionado e matado seus inimigos,
- E alcançado vitória contra seus rivais,
- Ele descansou calmamente em sua casa,
- A qual ele deu o nome de Abzu onde vários templos ele construiu.
- Criou várias câmaras dentro dele.
- Ea e Damkina, sua esposa, repousaram no esplendor.
- E na Câmara dos Destinos, o Salão dos Arquétipos,
- Bel-Marduk, o mais sábio dos sábios foi concebido.
- Foi em Abzu que Marduk nasceu.
- No puro Abzu, Marduk nasceu.
- Ea, seu pai, foi quem o gerou.
- Damkina, sua mãe, foi quem o concebeu.
- Ele sugou os seios da deusa.
- Ela o amamentou e o tornou terrível.
- Sua figura desenvolveu-se, o olhar em seus olhos era fulgurante.
- Ele cresceu em virilidade, era poderoso desde o começo.
- Anu, o progenitor de seu pai o viu.
- Ele contentou-se e sorriu, seu coração estava cheio de alegria.
- Anu reconheceu sua perfeição: sua divindade era admirável.
- E ele tornou-se sublime excedendo todos os outros em seus atributos.
- Seus membros eram incompreensivelmente maravilhosos.
- Era impossível compreender sua existência com a mente, era difícil até de se olhar.
- Quatro olhos e quatro orelhas ele tinha.
- Chamas avançavam quando ele movia seus lábios.
- Suas orelhas cresceram.
- E seus olhos podiam ver tudo.
- Sua figura era suntuosa e superior quando comparada à dos outros deuses.
- Seus membros eram poderosos e sua natureza era superior.
- 'Marduk, Marduk,
- O Filho, O Deus-Sol, o deus dos deuses.'
- Ele era revestido com a aura de dez deuses, tamanho era seu poder.
- Todos os horrores repousavam nele.
- Anu forjou e fez nasceram os quatro ventos,
- E os entregou a ele: "Meu filho, faça deles o seu turbilhão."
- Ele criou poeira e mandou o furacão para controlá-la.
- Ele criou uma onda para trazer desolação a Tiamat.
- Tiamat estava desorientada. Dia e noite ela se afligia.
- Os deuses não pararam para descansar, eles [...]
- Em suas mentes eles planejavam maldades.
- Mandaram uma mensagem a Tiamat, a Mãe:
- "Quando Abzu, teu esposo, foi morto,
- Tu não foste junto a ele, mas sentou-se em silêncio.
- Agora os quatro ventos terríveis foram criados para causar-lhe desolação.
- Nós não descansaremos.
- Tu não choraste por Abzu, teu esposo,
- Nem por Mummu que está aprisionado, e agora estás só.
- Daqui em diante viverás em grande consternação.
- Não podemos descansar, pois não somos amados por ti.
- Entenda nossa dor. Nossos olhos estão vazios.
- Que acabe sua soberania para que possamos dormir.
- Venha à guerra! Vingue-os!
- [...] reduza a nada!"
- Tiamat ouviu a provocação e sentiu prazer.
- Ela disse: "Faremos demônios assim como aconselhastes."
- Outros deuses juntaram-se a ela.
- Eles planejaram maldades contra os deuses, seus irmãos.
- Eles [...] e ficaram do lado de Tiamat.
- Ferozes eram seus planos e eles estavam irrequietos.
- Urgiam pela batalha, rugindo e fazendo tempestades.
- Faziam provocações para ocasionar conflito.
- Mãe Hubur, que deu forma a todas as coisas,
- Supriu-os com armas invencíveis e criou serpentes gigantes e monstruosas.
- De dentes afiados e presas impiedosas.
- Com veneno em vez de sangue ela preencheu seus corpos.
- Os furiosos monstros-víboras ela revestiu de terror.
- Adornou-os com esplendor divino, deu-lhes imensa estatura.
- Ela disse: " Que aqueles que os contemplarem pereçam de pavor.
- Ide sempre em frente e nunca recuai."
- Ela criou a Hidra, o Dragão, o Herói Cabeludo,
- O Grande Demônio, O Cão Selvagem e o Homem-Escorpião,
- Ferozes demônios, o Homem-Peixe e o Homem-Touro.
- Eles portavam armas cruéis e não temiam a luta
- Seus comandos eram tremendos, nada podia resistir.
- Depois, da mesma forma, ela fez onze monstros.
- Dentre os deuses que eram seus filhos, aqueles que a haviam ajudado,
- Ela exaltou Kingu e o glorificou em meio aos outros.
- Para marchar na frente dos exércitos, para liderar as tropas.
- Para portar as armas, realizar campanhas, mobilizar o conflito.
- O comandante da batalha, Chefe Supremo.
- Nele ela depositou grande confiança e colocou-o num trono. Ela disse:
- "Eu proferi teu encantamento e o promovi a comandante dos deuses.
- O domínio sobre todos os deuses a ti eu confiei.
- Que sejas exaltado, meu esposo, e serás famoso.
- Que teu comando seja supremo entre os Anunnaki."
- Ela deu a ele as Tábuas do Destino. Em seus seios ela os segurou dizendo:
- "Teu comando nunca será desrespeitado e a palavra de tua boca será obedecida."
- Depois que Kingu havia sido exaltado e recebido o poder de Anu,
- Ele decretou o Destino dos deuses e seus filhos dizendo:
- "Que o comando de vossa boca derrote o Deus-Fogo!
- Que vosso veneno e vosso poder terminem com os conflitos."
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